Outro dia. Caricato dia. A sexta-feira costuma encher-me a alma de cores fluorescentes e a contrapor o dia cinzento que abalou a cidade de Londres (parece que depois da Primavera, cá desflora o Inverno outra vez), hoje o meu dia foi mesmo verde, verde fluorescente. Já dizia o horóscopo do “metro”, que a paixão ia harmonizar o meu dia e parece que não mentiu. Não encontrei a cara-metade mas voltei a viver algumas paixões pessoais, a paixão do ensino e a paixão de escrever o que penso (o meu novo brinquedo).
Não sei se o dom da palavra é suficiente para exprimir algo tão singular como é o acto de pensar, mas hoje apetece-me falar sobre isso. Talvez porque pensar tem sido um dos meus grandes passatempos. Ou porque a saudade o obriga, ou porque este prazer, depois de descoberto, se torna insaciável.
Pensar… pensar em reduzir esta concepção em palavras não é fácil, porque pensar encontra em si uma diversidade de silogismos. Pensamos de tantas formas e cada forma envolta em particularidades. Mas a definir de um modo lato, “pensar” talvez não seja mais que a busca do consciente no que nos é inconsciente até então. E por isso pensamos mesmo quando não temos a noção que o estamos a fazer.
O acto de pensar poderia ser apenas isto, o tomar consciência. Contudo, distingue-se dos muitos outros actos naturais porque encontra a sua amplitude máxima na realização do prazer pessoal. E um prazer extraordinário, que não só prevê a auto construção dos nossos saberes mas sobretudo da nossa personalidade. É no seu fulgor, aprender connosco próprio e deliciarmo-nos com essa aprendizagem.
O facto de conseguirmos não só captar um conhecimento, mas principalmente conseguirmos desfrutá-lo, apreciá-lo e recriá-lo, transforma o mero acto de pensar em algo único e especial. Avaliarmos esta análise personalizada significa elevarmos esta capacidade a todo o esplendor construtivista. E personalizada porque apenas ao pensador diz respeito, é impassível de contradições ou concepções externas que a possam julgar. E por isso o prazer é total. Construir uma análise, melhor, ambicionar e desfrutar o gosto de analisar com o objectivo único da satisfação pessoal é a utopia da felicidade.
Podemos pensar de formas distintas, formas boas e menos boas, controláveis e não controláveis, metódicas ou abstractas. O pensamento criativo com base em conhecimentos adquiridos é para mim, o de maior satisfação, uma vez que nos eleva enquanto pensadores a um patamar superior, a criação. E a criação não é só uma mera satisfação pessoal, é o que nos diferencia de todos os seres não pensadores e é por isso um objectivo de vida.
A felicidade encontra aqui um dos seus pontos fortes. Alguém capacitado de criar os seus saberes e os seus caminhos, e com eles construir a própria personalidade e desfrutar desta edificação, é alguém que atingiu o expoente máximo da felicidade. Esta, mesmo que trançada e dependente de uma sociedade que vive da partilha, não deixa de ser um sentimento único e pessoal. Por vezes queremos fazer dela a felicidade do outro e por vezes culpamos os outros, ou a falta deles, pela sua não congruência, mas esta culpa é apenas uma forma de encobrir outra culpa. A de não sermos capazes de atingir a felicidade como ela é: nossa.
Atingir esse patamar pode nem sequer estar ao alcance do ser humano, mas também a vida é balizada de objectivos, e se o nosso objectivo é encontrarmos a felicidade, a piada está em percorrermos esse caminho. Sejamos pensadores então!
2 comentários:
Joana, estive a ler o teu texto e.. tentei lembrar-me da jovem adolescente que cresceu ao lado da minha sobrinha... impressionante!! Adorei o que escreveste...como é bom pensar, não é? Vou estar atenta ao teu blog e de vez em quando farei um ou outro comentário..Vejo por entre as tuas palavras a paixão e o deslumbramento que nós (professores) não podemos nunca deixar morrer... li algures que a nossa profissão é uma missão... discordo em absoluto..eu não sou uma voluntária.. eu sou uma apaixonada pelo que faço e estou aterrorizada porque estão a tentar destruir aquilo que ando há 24 ou 25 anos a construir... uma ponte entre aquele que ensina e o que aprende; e essa ponte pode ser percorrida pelos dois sem pagarem portagens, sem pararem em engarrafmentos...e ..se quiserem parar, fazem-no porque o querem e não porque os outros assim o dizem. Aprender a descobrir é algo que nos acompanha toda a vida ...e eu quero ter tempo para ensinar os outros a descobrir...a encontrar respostas às suas questões...
Sei que te encontras em Portugal...o teu mail é o mesmo?
Muito bom Joaninha!
bjs
Tiago
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