segunda-feira, 5 de maio de 2008

Uma mera opiniao sobre o Sistema Educativo Inglês




O que difere no Sistema Educativo Inglês quando comparado com o Português? E será este modelo tão mais extraordinário e progressista que quando conjecturado cai na boca do mundo como uma potência mundial!
Antes de escrever esta opinião, fui assombrada por um rol de discussões de grupo de amigos sobre o tema e, verdade é, que em alguns pontos esta opinião não se enlaça com algumas outras que ouvi falar. Todavia, o que escrevi trata apenas uma mera ideia formulada de vivências e experiências pessoais. Como trata uma opinião, e neste aspecto eu sou muito pouco imparcial, é feita de conjecturas retóricas e ideais que apenas a mim tem de fazer sentido.

O sistema em si é totalmente diferente. Tem pontos bons, pontos maus, pontos fortes e fracos. Eu penso que vive um pouco à mercê de utopias, mas também é apenas uma opinião de quem experienciou poucos universos.

Penso que peca bastante o facto de não ser avaliada, em termos objectivos, a progressão dos alunos. Neste sistema todos progridem mesmo que cognitivamente não estejam aptos para tal. Como referi anteriormente, lido com crianças de 15 anos com níveis cognitivos de 8, sem saberem princípios básicos que muitas vezes vão para além dos conteúdos meramente científicos.

As avaliações existem, mas são traçadas em termos relativos. As crianças são avaliadas trimestralmente e consoante a sua cotação progridem ou não em níveis. Numa via perfeita, o ensino diferencial deveria combater os desequilíbrios que se sentem ao nível do ensino/aprendizagem, mas com turmas de 25 alunos, a maioria delas com graves problemas comportamentais e com poucas aptidões, este sistema é demasiado complexo e pouco eficaz. E com isto o desastre é total! Ninguém chumba. O passar de ano é o patamar mais baixo que se pode atingir. E é por isso que muitas destas crianças não sentem necessidade de aprender. Se muitas filosofias pregam que a aprendizagem deve ser uma conquista pessoal, estas filosofias esquecem-se que algumas crianças de 7, 8, 9, 10 anos não compreendem sequer o que são conquistas pessoais.

Eu acredito que a pressão não pode ser vista de forma pejorativa, um pouco de pressão ajuda a percorrer o meio para alcançar o fim. Eu que fui estudante sei que não foi o facto de gostar de matemática que me fez aprendê-la, foi porque precisei de estudá-la. E ainda bem que assim foi! A necessidade fez o ganho e hoje orgulho-me de tê-la aprendido e reconheço a sua necessidade.

Este sistema não respeita cognições e para mim é o seu ponto mais fraco.

Existem contudo alguns aspectos positivos. Em termos teóricos existe um sistema diferenciado, onde os alunos deveriam ser respeitados segundo as suas cognições. Verdade é que na prática este modelo só se aplica em alguns e raros casos. Só os docentes integrados e que trabalham com o objectivo de construir um modelo real de ensino/aprendizagem o aplicam, contudo muitas vezes sem sucesso, não só porque é muito complexo mas também porque sozinhos o trabalho é penoso. Como via, o sistema integrou novos cargos de auxílio aos professores como os “learning support assistant” e os “teacher assistant” no qual me qualifico. Seria perfeito se cada professor tivesse o apoio requerido porém isso, nem sempre acontece. E aponto agora para o meu caso particular. Eu sou a única TA do departamento de ciências a contribuir para o acompanhamento das aulas e dou apoio a cerca de 12 turmas num universo de 40 (números aproximados). O acompanhamento nessas 12 nem sequer é gradual, em algumas só participo uma vez por semana. Tanto é complicado para o professor para gerir o seu trabalho, como para mim que não acompanho progressivamente o trabalho da turma ou dos alunos.

Um ponto indiscutível que prima neste sistema é o apoio que o estado e outras entidades fornecem à instituição escola. É quase grotesca a quantidade de recursos que as escolas fornecem aos profissionais. Um professor tem todas as ferramentas e mais algumas para ser um profissional de sucesso. Tudo é dado! Lembro-me ainda de no meu ano de estágio ter de construir todos os recursos necessários, desde os planos da aula, passando pelas estratégias até aos recursos visuais ou informativos. O trabalho de professor em Portugal é ingrato porque é um trabalho individual, não há ajuda nem apoio. Cá, o professor aplica os recursos, constrói a sua aula com uma base, não tem de partir do zero e isso não só dá uma margem de manobra para melhorar o modelo como não imprime uma carga de trabalho injusta e muitas vezes impraticável e insuportável. O revés da medalha é que muitos dos docentes deste sistema que tudo fornece, descansam sobre o facto de nada terem de fazer e meia dúzia de fichas de trabalho (que já estão construídas) tapam o buraco da carga horária previsto para uma aula.

Mais uma vez digo que o meu caso particular não é reflexo do universo do sistema educativo inglês, a minha escola não é catalogada como uma escola de elite (nem pouco mais ou menos), mas se tenho de comparar o nosso sistema com este em termos efectivos de aprendizagem, o nosso é real, com os seus fracassos e conquistas, mas real. O inglês é utópico, feito de realismos irreais e quiméricos.

Poderia descrever mais alguns pontos mas, no entretanto, não sairia daqui…

Um comentário:

Lurdes Baldé disse...

Antes de mais gostaria de louvar o facto de estares a escrever este blog durante este periodo de experiencias importantes na tua vida.
Eu como tua colega, amiga e professora de ciencias, tenho a dizer que discordo com o facto do sistema ingles nao ser real. A minha experiencia de ensino em 3 escolas inglesas particularmente diferentes fizeram me construir uma opiniao um pouco discordante. A realidade e que o sistema educativo ingles e
bastante real no que diz respeito a realidade vivida no pais.
Penso que tal como o nosso apresenta pontos fracos e fortes mas de alguma forma sao os objectivos descritos e detalhados na politica das escolas que faz com que este sistema nao cause confusoes para quem esta a ensinar ou ate mesmo para quem esta a dar apoio no Uiverso Escolar. Existem algumas utopias mas a realidade e que o facto do sistema educativo portugues tentar aplicar politicas sem estas estarem minimamente esclarecidas e perceptiveis a todos nao sera um pouco fora da realidade? Penso que ambos os sistemas educativos terao de considerar n aspectos para que todos consigam valorizar o facto de APRENDER.