segunda-feira, 9 de junho de 2008

Hoje o tema descarta-se de filosofias subjectivas. Não porque me sinta conhecedora de verdades, nem capaz de tecer opiniões científicas sobre os demais temas badalares que assombram a educação em Portugal, mas porque apenas gosto de reflectir sobre as minhas crenças e de expressar a minha opinião, vou fazer do prazer um direito e escrever um pouco sobre a educação no nosso país.

Tenho de concordar que a minha opinião é um pouco facciosa e partidária. Em ocasiões particulares vi-me fustigada por muitos colegas quando, em plena audiência, aplaudi de pé a nossa grande Ministra da Educação. Fora radicalismos, até porque me considero apenas uma crente das minhas crenças, acredito que do poço que estava o estado da educação à uns quatro anos atrás, esta senhora tem feito muito também pelo crescente que temos vindo a sentir.

Ouvem-se acérrimos comentários sobre as condições educativas actuais, mas verdade é que se a educação é feita por três grandes fatias de um bolo, os professores, a escola e os alunos, apenas sobre primeiros se têm tecido comentários, esquecendo as outras grandes partes em falta. Analisando também estas fatias, parece-me que temos vindo a sentir um grande avanço nas condições dadas às escolas e principalmente aos alunos. Não só porque se criam novas e capazes infoestruturas e recursos, como se tem criado também um leque de novas e prometedoras condições para que os estudantes progridam numa carreira concisa e liberal. Desacreditem-se os descrentes, mas a educação avança num bom caminho, o mal único está nestes muitos queixosos que apenas olham para o mal que lhes cabe sem pesarem as consequências reais que se têm vindo a demarcar. São estes cessantes críticos desapaixonados pelo ensino, que sublinham a bold uma mediocridade irreal que apetece dizer: sigam uma qualquer outra paixão!

Assustou-me ler no jornal que os números que assombram este patamar podem ser maiores do que eu poderia prever. Parece que 44% dos docentes não voltaria a escolher a carreira se pudesse optar. Como se optar não fosse uma opção! Parece-me óbvio que numa sociedade liberal como a nossa ainda ninguém é obrigado a nada, temos sempre o poder decisivo de dizer “não”! E que tal optarem por fazerem agora aquilo que parece que fariam à uns anos atrás se pudessem “optar”!? Porque não abandonarem a vida medíocre que parecem viver? Não me lembro de ouvir dizer que a liberdade obriga os infelizes a viverem na infelicidade. Se estes, que ocupam este espaço limitado, se libertassem e decidissem viver outra qualquer paixão que não a infelicidade da educação, poderíamos assistir, com toda a certeza, à melhoria do sistema. Não só porque se abririam alas a apaixonados como eu de viverem uma paixão, como se aboliam os incompetentes desgostosos de mancharem mais o nome da educação.

Não quero generalizar, mas acredito que os protestos dos professores não ressalvam só as condições “menos agradáveis” a que parecem assistir neste momento e sublinho, que obviamente estas condições existem. Eu creio que este estrondoso descontentamento reflecte mais uma introspecção frustrante e indolente de quem vive um karma desolador, de quem tinha muito e ficou com menos. Custa mais perder regalias do que ganhá-las, e verdade é que os professores de antigamente estavam projectados em regalias. Mas peço a estes professores para vislumbrarem um pouco as condições actuais de um qualquer mercado mundial para então perceberem que viver esta profissão é uma das prerrogativas mais magníficas que um ser pensante pode ter. E abracem sim este prazer, porque viver a educação não pode ser apenas só o viver de mais uma profissão, tem de ser o deleite de quem compreende que esta é a esfera da construção individual, pessoal e social e é por isso uma das mais importantes demandas da vida.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Pensar pensando...

Outro dia. Caricato dia. A sexta-feira costuma encher-me a alma de cores fluorescentes e a contrapor o dia cinzento que abalou a cidade de Londres (parece que depois da Primavera, cá desflora o Inverno outra vez), hoje o meu dia foi mesmo verde, verde fluorescente. Já dizia o horóscopo do “metro”, que a paixão ia harmonizar o meu dia e parece que não mentiu. Não encontrei a cara-metade mas voltei a viver algumas paixões pessoais, a paixão do ensino e a paixão de escrever o que penso (o meu novo brinquedo).

Não sei se o dom da palavra é suficiente para exprimir algo tão singular como é o acto de pensar, mas hoje apetece-me falar sobre isso. Talvez porque pensar tem sido um dos meus grandes passatempos. Ou porque a saudade o obriga, ou porque este prazer, depois de descoberto, se torna insaciável.

Pensar… pensar em reduzir esta concepção em palavras não é fácil, porque pensar encontra em si uma diversidade de silogismos. Pensamos de tantas formas e cada forma envolta em particularidades. Mas a definir de um modo lato, “pensar” talvez não seja mais que a busca do consciente no que nos é inconsciente até então. E por isso pensamos mesmo quando não temos a noção que o estamos a fazer.

O acto de pensar poderia ser apenas isto, o tomar consciência. Contudo, distingue-se dos muitos outros actos naturais porque encontra a sua amplitude máxima na realização do prazer pessoal. E um prazer extraordinário, que não só prevê a auto construção dos nossos saberes mas sobretudo da nossa personalidade. É no seu fulgor, aprender connosco próprio e deliciarmo-nos com essa aprendizagem.

O facto de conseguirmos não só captar um conhecimento, mas principalmente conseguirmos desfrutá-lo, apreciá-lo e recriá-lo, transforma o mero acto de pensar em algo único e especial. Avaliarmos esta análise personalizada significa elevarmos esta capacidade a todo o esplendor construtivista. E personalizada porque apenas ao pensador diz respeito, é impassível de contradições ou concepções externas que a possam julgar. E por isso o prazer é total. Construir uma análise, melhor, ambicionar e desfrutar o gosto de analisar com o objectivo único da satisfação pessoal é a utopia da felicidade.

Podemos pensar de formas distintas, formas boas e menos boas, controláveis e não controláveis, metódicas ou abstractas. O pensamento criativo com base em conhecimentos adquiridos é para mim, o de maior satisfação, uma vez que nos eleva enquanto pensadores a um patamar superior, a criação. E a criação não é só uma mera satisfação pessoal, é o que nos diferencia de todos os seres não pensadores e é por isso um objectivo de vida.

A felicidade encontra aqui um dos seus pontos fortes. Alguém capacitado de criar os seus saberes e os seus caminhos, e com eles construir a própria personalidade e desfrutar desta edificação, é alguém que atingiu o expoente máximo da felicidade. Esta, mesmo que trançada e dependente de uma sociedade que vive da partilha, não deixa de ser um sentimento único e pessoal. Por vezes queremos fazer dela a felicidade do outro e por vezes culpamos os outros, ou a falta deles, pela sua não congruência, mas esta culpa é apenas uma forma de encobrir outra culpa. A de não sermos capazes de atingir a felicidade como ela é: nossa.

Atingir esse patamar pode nem sequer estar ao alcance do ser humano, mas também a vida é balizada de objectivos, e se o nosso objectivo é encontrarmos a felicidade, a piada está em percorrermos esse caminho. Sejamos pensadores então!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Pensamento do dia...









"The more we get together the happier we´ll be..." =)

Why don´t you like Science?

Mais um dia. Caricato dia. Hoje acordei com os sentidos acesos a respirarem a Primavera e pelos vistos com um perfume diferente ao agrado apenas de alguns. Mas foi um dia interessante, vivi algumas aventuras que atearam a mecha de me fazer pensar. Hoje penso sobre a Ciência.

Já não é a primeira vez que uma aluna contrapõe uma ideia com a frase: “Ohh Miss, Science is so boring…I don´t like it and I don´t see why do we need to know about it…” Hoje voltei a ouvi-la. Das vezes que mo dizem, e verdade é que me aperta o peito quando o oiço, tento mostrar de um modo floreado que o conhecimento da ciência é uma coisa magnífica e digna a qualquer ser pensante. Explico-me que antes de se gostar de qualquer coisa tem de se gostar de aprendê-la e este gosto, mesmo que imperceptível, é intrínseco ao ser humano, já que não nascemos conhecedores. Pergunto-lhes o que é aprender? Sem respostas, digo que não é mais que saciar uma curiosidade e que toda a gente é curiosa, todos gostamos de saber e portanto, todos gostamos de aprender. Pergunto-lhes se elas não são curiosas. Aliar a curiosidade ao mundo que nos rodeia é a amplitude do saber e o saber é a porta de chegada da vida. È para a conquista do saber que todos nós caminhamos.

Talvez pareça demasiado complexo para crianças desinteressadas em filosofias. Das outras vezes que me expliquei assim nenhuma aluna pareceu reflectir sobre o assunto. Talvez porque não o fiz entender, talvez porque sozinha, apenas eu partilho este sentimento. Hoje contudo, alguém retribuiu a intuição e disse: “you´re right Miss”. É estranho porque foi a aceitação deste pensamento e não a sua rejeição que me fez parar, reflectir e ansiar a procurar de um significado mais profundo. Pensei que se pensasse sobre ele talvez percebesse o porquê daquele aperto no peito quando alguém me diz que não gosta de Ciências.

Como trabalho de casa, pensei que seria sensato procurar a definição de “Ciência” no dicionário porque se há alguém que sabe definir conceitos, esse alguém são os senhores que escrevem os dicionários. Nele vem que: «(do Latim scientia) Conhecimento certo e racional sobre a natureza das coisas ou sobre as suas condições de existência. Investigação metódica das leis dos fenómenos. Saber; Conhecimento; Erudição; Instrução».

Lendo isto parece legítima a minha definição. Contudo parece-me também que a compreensão do que é a Ciência reflecte mais filosofias que propriamente condições exactas.

É um conceito demasiado amplo para ser categorizado em apenas um conceito. Este termo eleva-se a um conjunto infindável de disciplinas e matérias. E o que são estas Ciências se não um agrupamento de muitas outras Ciências que englobam outras Ciências ainda... Mas o que interessa na verdade, é focar o conteúdo e não o termo em si. A Ciência não é feita de nomes e definições e sim de conteúdos, aprendizagens e experimentações. É a natureza das coisas que interessa e não as coisas em si.

Será a Ciência a percepção do saber? Porque o saber é subjectivo, nós sabemos o que a nossa percepção diz saber. E não será o termo percepção por si também bastante relativo? Porque a percepção é um conhecimento individual e o individual vem sempre aliado ao sentimento, e o sentimento de quem pressente é único. Pode este “único” ser universal? Se aplicável ao real, provavelmente sim. Ciência é portanto tudo o que conhecemos como verdade real? Paradoxo interessante…

E quando pensamos em Ciência, pensamos nos animais, nas plantas, no homem, no átomo, nos electrões… na química, na física, na matemática… Mas será mesmo todo esta Ciência verdade real? Para além dos milhares de questões que afamam a integridade científica, esta intrigou-me a mim. Um dia, alguém me mostrou o seguinte paradigma:

1
= √1 = √(-1)x(-1) = (√-1) x (√-1) = (√-1) = i = i x i = i2 = -1

Uma verdade discutível me parece…

Eu porém gosto de acreditar que a ciência é tudo! Até mesmo os paradigmas que desafiam a ambiguidade da lógica. A Ciência é também a mutação, a lógica de hoje pode não ser a lógica de amanhã mas a verdade é única, neste caso, a verdade é 1=-1.

E será que a Ciência se desprende de alguma coisa? Talvez do sentimento? Será que existe uma arte que compreenda as profundezas do sentimento? Será que a Ciência também explica o amor, o ódio, a saudade a crença e o que de mais intrínseco envolve o ser humano? O corpo é Ciência, o cérebro é Ciência e até a alma é Ciência. Talvez a Ciência também explica o aperto no peito que sinto quando oiço alguém dizer que não gosta desta Ciência.

O que devo explicar então às alunas que não gostam de Ciências? Parece-me que a reflexão apenas serviu para confundir ainda mais a suposta conclusão. Talvez tenha de as desprender do preconceito que envolve a arte de pensar e fazer vê-las que Ciência é pararmos, querermos, observarmos e questionarmo-nos sobre as coisas.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Uma mera opiniao sobre o Sistema Educativo Inglês




O que difere no Sistema Educativo Inglês quando comparado com o Português? E será este modelo tão mais extraordinário e progressista que quando conjecturado cai na boca do mundo como uma potência mundial!
Antes de escrever esta opinião, fui assombrada por um rol de discussões de grupo de amigos sobre o tema e, verdade é, que em alguns pontos esta opinião não se enlaça com algumas outras que ouvi falar. Todavia, o que escrevi trata apenas uma mera ideia formulada de vivências e experiências pessoais. Como trata uma opinião, e neste aspecto eu sou muito pouco imparcial, é feita de conjecturas retóricas e ideais que apenas a mim tem de fazer sentido.

O sistema em si é totalmente diferente. Tem pontos bons, pontos maus, pontos fortes e fracos. Eu penso que vive um pouco à mercê de utopias, mas também é apenas uma opinião de quem experienciou poucos universos.

Penso que peca bastante o facto de não ser avaliada, em termos objectivos, a progressão dos alunos. Neste sistema todos progridem mesmo que cognitivamente não estejam aptos para tal. Como referi anteriormente, lido com crianças de 15 anos com níveis cognitivos de 8, sem saberem princípios básicos que muitas vezes vão para além dos conteúdos meramente científicos.

As avaliações existem, mas são traçadas em termos relativos. As crianças são avaliadas trimestralmente e consoante a sua cotação progridem ou não em níveis. Numa via perfeita, o ensino diferencial deveria combater os desequilíbrios que se sentem ao nível do ensino/aprendizagem, mas com turmas de 25 alunos, a maioria delas com graves problemas comportamentais e com poucas aptidões, este sistema é demasiado complexo e pouco eficaz. E com isto o desastre é total! Ninguém chumba. O passar de ano é o patamar mais baixo que se pode atingir. E é por isso que muitas destas crianças não sentem necessidade de aprender. Se muitas filosofias pregam que a aprendizagem deve ser uma conquista pessoal, estas filosofias esquecem-se que algumas crianças de 7, 8, 9, 10 anos não compreendem sequer o que são conquistas pessoais.

Eu acredito que a pressão não pode ser vista de forma pejorativa, um pouco de pressão ajuda a percorrer o meio para alcançar o fim. Eu que fui estudante sei que não foi o facto de gostar de matemática que me fez aprendê-la, foi porque precisei de estudá-la. E ainda bem que assim foi! A necessidade fez o ganho e hoje orgulho-me de tê-la aprendido e reconheço a sua necessidade.

Este sistema não respeita cognições e para mim é o seu ponto mais fraco.

Existem contudo alguns aspectos positivos. Em termos teóricos existe um sistema diferenciado, onde os alunos deveriam ser respeitados segundo as suas cognições. Verdade é que na prática este modelo só se aplica em alguns e raros casos. Só os docentes integrados e que trabalham com o objectivo de construir um modelo real de ensino/aprendizagem o aplicam, contudo muitas vezes sem sucesso, não só porque é muito complexo mas também porque sozinhos o trabalho é penoso. Como via, o sistema integrou novos cargos de auxílio aos professores como os “learning support assistant” e os “teacher assistant” no qual me qualifico. Seria perfeito se cada professor tivesse o apoio requerido porém isso, nem sempre acontece. E aponto agora para o meu caso particular. Eu sou a única TA do departamento de ciências a contribuir para o acompanhamento das aulas e dou apoio a cerca de 12 turmas num universo de 40 (números aproximados). O acompanhamento nessas 12 nem sequer é gradual, em algumas só participo uma vez por semana. Tanto é complicado para o professor para gerir o seu trabalho, como para mim que não acompanho progressivamente o trabalho da turma ou dos alunos.

Um ponto indiscutível que prima neste sistema é o apoio que o estado e outras entidades fornecem à instituição escola. É quase grotesca a quantidade de recursos que as escolas fornecem aos profissionais. Um professor tem todas as ferramentas e mais algumas para ser um profissional de sucesso. Tudo é dado! Lembro-me ainda de no meu ano de estágio ter de construir todos os recursos necessários, desde os planos da aula, passando pelas estratégias até aos recursos visuais ou informativos. O trabalho de professor em Portugal é ingrato porque é um trabalho individual, não há ajuda nem apoio. Cá, o professor aplica os recursos, constrói a sua aula com uma base, não tem de partir do zero e isso não só dá uma margem de manobra para melhorar o modelo como não imprime uma carga de trabalho injusta e muitas vezes impraticável e insuportável. O revés da medalha é que muitos dos docentes deste sistema que tudo fornece, descansam sobre o facto de nada terem de fazer e meia dúzia de fichas de trabalho (que já estão construídas) tapam o buraco da carga horária previsto para uma aula.

Mais uma vez digo que o meu caso particular não é reflexo do universo do sistema educativo inglês, a minha escola não é catalogada como uma escola de elite (nem pouco mais ou menos), mas se tenho de comparar o nosso sistema com este em termos efectivos de aprendizagem, o nosso é real, com os seus fracassos e conquistas, mas real. O inglês é utópico, feito de realismos irreais e quiméricos.

Poderia descrever mais alguns pontos mas, no entretanto, não sairia daqui…

O meu percurso...

Tenho de admitir que a possibilidade de trabalhar no estrangeiro não tombou do mero acaso. Surgiu no dia em que tomei consciência da situação actual do nosso sistema de ensino. Isso foi pouco depois de iniciar a licenciatura, contudo na altura pensei que esse contratempo era pequeno no meio de um desafio que sempre vivi e que me via a viver para sempre, o de ser professora. Com o meu objectivo bem traçado, encarei esta possibilidade como a única no plano do razoável.

Foi com alguma frustração que alimentei esta possibilidade porque o meu objectivo é ser professora em Portugal, mas assim foi. Após ter terminado a licenciatura, comecei a enviar currículos para agências de recrutamento de profissionais em ensino em Inglaterra e parti à aventura.

Estou neste momento colocada numa escola como Teacher Assistant no Departamento de Ciências. Como estou igualmente ligada ao SEN (Special Education Needs), a minha função na escola não só é ajudar os professores no desenrolar das aulas, mas também dar apoio mais individualizado a determinadas crianças com algumas necessidades especiais. Noutras condições as necessidades poderiam estar aliadas a deficiências motoras ou mentais, no meu caso específico apenas têm a ver com dificuldades de aprendizagem ou comportamento (posso garantir que não é fácil também).

A primeira fase após a minha chegada a Londres, a 2 de Outubro de 2007 foi um pouco complicada. Estive algum tempo enrolada em burocracias com agências e escolas á espera de respostas. O processo de “legalização” não é fácil, e viver neste país sem sustento também não. Tratar do National Insure Number, traduções de documentos, cartas de recomendação, CRB… tudo isto requer tempo e muita paciência. Viver sozinha pela primeira e envolta de chatices muitas vezes puxou-me para baixo contudo, tudo se resolveu tal como eu inicialmente tinha traçado. Após algumas colocações provisórias a preencher covers noutras escolas, fui finalmente colocada permanentemente até ao final do ano lectivo na Charles Edward Brook Girl´s School em Oval (Londres).

Não é fácil entrar numa escola a meio do ano lectivo porque a recepção nem sempre é calorosa. As crianças por vezes são bastante maldosas e reagem na defensiva, como não conhecem, atacam. Foi preciso algum tempo de adaptação e paciência para me ver moldada não só a um paradigma diferente como também a problemas intrínsecos. Quem diz que existe violência nas escolas portuguesas, tem de viver a realidade inglesa para sentir o que são problemas profundos a nível do comportamento. A experiência na escola onde estou colocada levou-me a descobrir a resposta á questão “porque será que existem tantas vagas para professores cá?” Porque ser professor em Inglaterra não é fácil, os alunos não nos respeitam nem compreendem o fundamente base da educação. Para além de haver graves lacunas em termos de regulamentação, um currículo moldado em utopias também não ajuda. Para mim, o grande problema recai sobre a progressão, eu lido com muitas jovens de 15 anos com capacidades cognitivas de 8. É complicado lidar com o complexo quando o básico não existe e é obvio que isso se vai reflectir também a níveis de educação cívica básica. Mas acredito que isto é apenas a minha experiência recente. Não aponto o dedo a todas as escolas, mas verdade é que se eu vim para este país cheia de idealismos em encontrar o sucesso, esses idealismos depressa se esbateram.

Contudo, e aparte de filosofias, hoje em dia sinto-me bastante satisfeita com o trabalho que tenho vindo a desempenhar, para além de ter conquistado um generoso leque de alunas, que apreciam a ajuda que lhes dou, também sinto que o departamento está satisfeito. O trabalho não é exaustivo, a minha função recai mais sobre a performance da sala de aula, mas é contudo, bastante gratificante.

Já lá vão 7 meses desde que cheguei a terras de “Sua Majestade” e a introspecção é positiva. Para além de estar empregada estou a viver ainda um sentimento de estudante porque estou em formação, a aprender novos modelos de aprendizagem novas ideologias que em muito têm ajudado a construir um contentamento pessoal. Espero para o ano estar colocada numa universidade a fazer o PGCE para daqui a dois anos estar colocada como professora numa escola em Inglaterra. Com isto reuni muitas aprendizagens, muitos recursos (nisso o modelo é extraordinário) um currículo razoável para nos anos seguintes tentar instituições particulares no meu grandioso e adorado Portugal.

...com saudades da familia, dos amigos, das noites e dos dias.

“Filosofia de um professor”

Foram 17 anos neste mundo complexo da educação a viver muitas experiências como aluna, chegou agora o momento de confrontar o revés da medalha e experimentar um novo papel, o papel de professor. Antevejo esta etapa com crescente ansiedade, a verdade é que me reencontro hoje a reviver idealizações da minha infância. Continuo a responder com toda a certeza àquela pergunta que afama os desejos de criança: o que queres ser quando fores grande? E é bom saber que a resposta que sempre dei enquanto criança, se manteve enquanto adulta e permanecerá enquanto profissional: quero ser professora. Contudo, sinto efervescer uma abcissa de pânico. Revejo-me hoje tal como me revi no primeiro dia de aulas numa escola nova: desconhecida e desorientada. Sinto um medo diferente, um medo que não sei explicar agora, mas que espero vir a compreender no final deste estágio.

É um passo colossal, este que me põe de fronte com a educação, e é para mim uma responsabilidade demais acrescida. Quero crer que terei estofo para esta incumbência, mas a verdade é que por vezes surgem dúvidas se serei ou não capaz. Consola-me o facto de acreditar na educação e acreditar na premissa que um dia ela será reconhecida em todo o seu valor. Acredito que pode ser reconstruída uma escola do futuro, uma escola que represente o valor real da educação, uma escola acreditada por todos. E é na certeza que esta construção merece mais do que o meu simples esforço, merece o meu total empenho, que me vejo encorajada a fazer parte deste mundo.

Encarei sempre o mundo da educação e a arte de ensinar com muito respeito, consideração e apreço. Reconheço muita proeza naqueles que, mesmo cientes das dificuldades do país nesta área, se consolam apenas por este gosto. Entristece-me contudo saber que há ainda muita gente que ignora e rejeita toda a importância que a educação tem realmente para uma sociedade e para o seu progresso.

A educação é o futuro das gerações, é o retracto de um país, é o principal patamar sociológico e o grande responsável pela edificação pessoal. É imperativo então olhar para esta mundividência com a preocupação que a escola constrói. Constrói papéis sociais, constrói trabalhadores e empreendedores, constrói principalmente personalidades. Constrói a nossa sociedade. Esta preocupação deve ser reconhecida com excelência por todos e jamais deve ser esquecida por um qualquer professor, agente directo da educação e responsável por esta mesma construção. Assim nós, futuros professores, devemos estar atentos, receptivos e impositivos à exigência que advém desta responsabilidade.

Rever a importância da educação deixada ao caos como revemos a situação actual do nosso país é um pouco desolador. Continua a ser pouca a consideração dada à educação actualmente, são muitas as contestações e de muitas partes, hoje ouvimos protestos permanentes a tombar sobre todas as coisas ou é o ministério que falha, ou são os professores que impugnam, ou são os alunos que insatisfeitos revoltam-se, ou são os pais incrédulos que se manifestam. É um caos de culpas, sem se saber de quem é a culpa afinal.

Muitas vezes penso nesta indeterminação e tento compreender o que falha no ensino em Portugal. A realidade é que não podemos facilmente descartar culpas para uma só entidade, todas elas se encontram na posição injusta de justificar um fracasso, e a tendência é sempre culpabilizar o próximo sem sequer assentir a culpa própria. Mas a verdade é que se a culpa não é de ninguém, tem de ser de todos.

O imperativo, a meu ver, assenta na necessidade de se refazer a escola, para bem dos alunos, para bem dos professores, para bem da sociedade e para bem do país. Mas refazer a escola como instituição contempla a reestruturação de todas as partes, que neste momento se decoram separadas, e unificá-las num todo. Devemos olhar para a instituição escola com a certeza que não há pesos a contrabalançar outros pesos, nesta escola, todas partes devem pesar de igual modo.

Mas para além da necessidade de todo um processo de reestruturação, a escola sofre actualmente um desnível para com o progresso social e tecnológico. A escola vive hoje ainda à margem do que é a realidade. O ensino tem de largar a sombra do passado ultrapassado, tem de olhar para o futuro e preparar os alunos para esse futuro, tem de lhes mostrar o que é o mundo, e não viver no que ele foi. É assim imperativo que, para além da necessidade progressista em mudar alguns ideais retrógrados, se perspective para a educação mais do que o meio de construir e assimilar aprendizagens, mas fazê-lo da melhor forma possível, com novos projectos, novas ideias, novas concepções e sobretudo com a noção que o impreterível é o bem da aprendizagem dos alunos.

Hoje entristece-me reconhecer que a escola perdeu a preocupação com os alunos, apenas se fala, e em demasia, no o estatuto do professor. Das discussões acesas que assistimos no início deste ano lectivo na televisão e nos jornais, vemos revoltas, vemos manifestações agendadas, e o tema mantém-se. A sedição não é no modo como se tem feito a escola ou como está o nosso sistema de ensino, esse assunto não vem à baila, a preocupação de muitos recai apenas sobre eles próprios. Não ouvimos o sindicato dos professores reflectirem sobre como melhorar o sistema de ensino, contestam senão apenas pelos seus supostos direitos. E que professores são estes que apenas olham para o seu próprio umbigo? Se a única causa de protesto é apenas o que lhes sustenta, como podem eles serem profissionais respeitáveis e dignos educadores? A educação diz muito pouco a muita gente. Eu perdi a fé nestes professores actuais. Acredito que serei diferente.

Eu como futura professora, idealizo a educação de outra forma, mais simples e harmoniosa. Talvez seja pura utopia, talvez seja por ainda não me ter deparado com grandes obstáculos ou talvez por ainda não me ter visto muitas vezes vencida sendo vencedora, mas também prefiro não prever dificuldade e acredito que muitos dos obstáculos que me possam afrontar, irão ser sempre rendidos à minha vontade de os vencer. Espero acima de tudo, ser uma boa profissional, naquilo que eu penso ser um dos mais importantes cargos sociais.

Penso agora nas principais directrizes que advêm do cargo de professor, e apesar de ser complicado planificar a longo prazo, principalmente antes de conhecer todos os intervenientes da minha acção, acredito em alguns valores éticos que corroboram a melhor forma de ensinar. Uma das principais premissas é mesmo esta, a arte de ensinar. E ensinar tem de ser visto não como uma maneira de transmitir conhecimento mas sim como a forma de construir uma aprendizagem. A maior virtude do ensino é a partilha, e é este o ideal que eu gostaria de levar para a escola, desejo que os meus alunos construam comigo o conhecimento.

O que define a educação escolar por si, é que ela não trata só da aprendizagem do aluno, muito menos do ensinamento do professor, mas trata sim de toda uma amplitude que remonta principalmente ao desejo essencial de cada ser humano em adquirir e conquistar conhecimento. E adquire conhecimento o aluno, que absorve os ensinamentos do professor, e adquire também conhecimento o professor que absorve as aprendizagens do aluno. Gostaria assim de poder fazer renascer o dom, que em todos nós existe e que na maioria das crianças e dos adolescentes está adormecido, de querer saber, de ansiar o conhecimento.

A escola tem assim a função de mostrar o desconhecido e dar a descobrir o mundo e toda a sua complexidade. Não pode é nunca esquecer que aliado ao dever de o transmitir se ajusta o direito de o conhecer. E aqui quem assume o protagonismo deve ser o aluno. Cabe-nos a nós, professores, suscitar o interesse e estimular o gosto do conhecimento, para que na escola do futuro se descartem as recusas e as insatisfações e prevaleçam as proezas e os aprazimentos.

Eu como professora terei de ser competente, o bom ensino assenta fortemente numa boa prática metódica. A tendência actual é adjectivar o bom ensino utilizando concepções mais filosóficas como criatividade, cooperatividade, respeito, etc. mas não nos podemos abstrair da base sistemática que regula a prática de ensino. Existe um plano curricular e um conjunto de competências a serem alcançadas pelos alunos que não se adquirem apenas com pedagogias, por parte do professor tem de haver um forte suporte retórico. Para além do gosto por conhecer e transmitir, deve ter o profissionalismo e a responsabilidade de saber em toda a amplitude do que vai ensinar, e saber da melhor forma possível. A competência exigida é mais que meras conjecturas, é sistemática, exigente, trabalhosa e muito metodológica.

Transpondo esta base metódica para a sala de aula, eu como futura professora, quero avançar com uma postura exime de concepções antecipadas. Penso que é arriscado partir com a crença que existe uma pedagogia certa que redige o melhor modelo de ensino. Acredito que a melhor forma de ensinar não é nenhuma, todas as pedagogias, todos os projectos e todas as ferramentas de ensino apenas serão boas pedagogias, bons projectos e boas ferramentas se a elas se ajustar a melhor expressão de aprendizagem. A melhor forma de ensinar é aquela que liga o conhecimento à aprendizagem, e o maior desafio é descobrir qual a forma certa de enlear essa ponte. Para isso é necessário outra bagagem para além daquela que trazemos de antemão, é necessário conhecer a turma, é necessário conhecer o ambiente circundante e sociológico, é necessário compreender cada aluno e cada condição de aprendizagem. Só depois, poderei então conjecturar o melhor meio para conectar, em conjunto, o melhor modelo de ensino/aprendizagem.

Nas ciências naturais, muito mais que em qualquer outra ciência, ajusta-se a vantagem de se tratar o real, muitas vezes facilmente verificável. Penso ser então aceitável prever que o recurso ao mesmo real seja preferível a qualquer outro método, a ciência deve então ser retratada, sempre que possível, com o observável, utilizando o laboratório, utilizando maquetas, levando os alunos ao local, etc. Do observável transpõem-se para o aplicável. Se houver condições e matérias para se experimentar a ciência e com ela construir o conhecimento, então mais bem sucedida será a aprendizagem. Para estas condições, penso que a faculdade me orientou bastantes recursos e de muita utilidade para experimentar a ciência, quer recursos tecnológicos como material pedagógico, falta agora enredar muita imaginação e vontade de concretização.

As técnicas que utilizarei na prática do ensino, contudo só terão razão de ser, se as conjugar com a razão imposta pelo vínculo ético que é previsto pela educação escolar. O educando desfruta da educação para atingir o fim a que é destinado, a sua projecção no mundo e a sua realização pessoal. Porque estes fins estão relacionados com os papéis que o adulto é chamado a desempenhar dentro de uma dada sociedade, a educação, quer como concepção, quer como prática, liga-se aos factores de ordem política, social, económica e cultural que o determinam. Assim, para além do estímulo imediato, terei de precaver e incentivar os novos cidadãos com valores deterministas, como são, principalmente a justiça e a liberdade. E são estes os princípios que eu espero guardar para mim mesma para da melhor forma, poder passar aos outros.

Joana Alves, 10/2006